'Estação Plural' estreia com sucesso na rede, mas pode se perder

Erros tais como não focar LGBT e levar convidados sem conhecimento podem comprometer razão de ser da atração

Publicado em 05/03/2016
estação plural
Programa deu lição a emissoras do quanto podem ganhar com programa LGBT

Por Marcio Claesen

Primeiro programa comandado por um trio abertamente LGBT - o jornalista gay Fernando Oliveira (Fefito), a cantora lésbica Ellen Oléria e a cantora trans Mel Gonçalves (da Banda Uó) - Estação Plural estreou na TV Brasil, na sexta-feira 4, com barulho nas redes sociais. A atração fez história na emissora pública por conseguir emplacar o nome nos Trending Topics do Twitter. 

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Mais para um bate-papo do que para um talk show (como o programa foi vendido para a imprensa), a atração teve como convidado o médico Drauzio Varella. Logo no início, o famoso oncologista foi lembrado por seu grande apoio à causa arco-íris com vídeo de 2014 em que fala da homossexualidade dentre os animais e dá recado aos homofóbicos (Se não viu até hoje, não hesite e clique aqui).

Desde aí, Fefito - acerto da produção por ser um gay afeminado - apareceu bem mais do que suas parceiras, mas não se trata de um pecado. Ele é jornalista. As outras duas, artistas. Que elas possam se sentir melhor no caminho da atração. 

Entretanto, houve áreas cinzentas na atração. A primeira metade do programa debateu temas que não se atêm necessariamente aos LGBT - frustrando expectativas - e a amarração pareceu por vezes frouxa e com videotapes gravados nas ruas de São Paulo que pouco acrescentavam à discussão. Mas era uma estreia e muito se ajusta e se lima com o decorrer das semanas.

Na segunda metade, o próprio Drauzio inseriu tema importante aos arco-íris, especialmente aos gays e às trans, ao tratar da dificuldade que um soropositivo tem ao revelar ou não sua condição a futuros pretendentes. Afinal, é melhor uma pequena mentira para que se desenvolva confiança antes ou colocar as cartas na mesa e correr o risco do amado te bloquear no Facebook? Com conhecimento sobre o assunto, o médico mostrou que talvez não haja resposta.

Foram mostrados ainda números de crimes contra LGBT em 2014 (dados do Grupo Gay da Bahia) e um rápido quiz sobre uma palavra do dicionário Aurélia, compêndio hilário lançado pelo jornalista Vitor Angelo, em 2006, que reunia expressões usadas pelos LGBT. Nas redes sociais, muitos elogiaram o quanto aprenderam com a conversa e com as informações passadas. Bingo!

Do que se viu, há duas lições para o futuro. O programa necessita focar-se mais na questão LGBT - afinal essa é sua razão de existência - e, ainda com esse objetivo, dar voz a LGBT (obviedade, não?!). Como o programa não tem orçamento para investir na forma, ele se calca no conteúdo. Dráuzio tinha o que falar. Mas o que dizer das próximas convidadas, tais como Rita Cadillac e Bruna Lombardi?! Foi anunciada a ida da jornalista e lésbica Barbara Gancia, ela sim, com vivências e sustância para o debate. Essa é a semente que deve ser regada.

O outro ensinamento tem como endereço as emissoras de televisão tais como RedeTV! e Band. A primeira lota seus horários com programas pagos e irrelevantes. A outra tornou Os Simpsons algo que nem o caquético Sílvio Santos ousou fazer com Chaves tantas são as repetições do desenho na programação. Se seus responsáveis precisavam de outra demonstração do poder de repercussão do público LGBT, ei-la! Até o Homer perceberia. 


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