10 vezes em que novelistas gays foram pioneiros em temas sociais

Há 40 anos escritores homossexuais têm dado destaque a grupos menos visíveis na teledramaturgia

Publicado em 15/10/2025

O embate entre mocinhos e vilões, motores principais das novelas, motivam milhões de espectadores a consumir um produto por até oito meses em busca da catarse no final.

Curta o Guia Gay no Instagram

Mas além de entreter, os folhetins são veículo para traduzir e, ao mesmo tempo, influenciar a sociedade, apontando hipocrisias, revelando comportamentos, abraçando a diversidade.

Que gays são apaixonados por vilãs, isso é fato. Porém, homossexuais não só ajudam a consumir e a perpetuar memes na internet. O segmento também está do outro lado do balcão, idealizando e escrevendo o que entrará para a história da arte brasileira.

Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, João Emanuel Carneiro, Tiago Santiago e Walcyr Carrasco nos encheram de orgulho!

Para celebrar os 63 anos do gênero televisivo mais amado no Brasil, veja 10 vezes em que novelistas gays foram pioneiros em temas identitários e sociais.

Primeira família negra classe média em novelas: Corpo a Corpo

Primeira família negra de classe média em Corpo a Corpo
Gilberto Braga tirou os negros da senzala e da cozinha e deu papéis de classe média para a família de Sônia (Zezé Motta) inserindo-os em núcleos antes reservados apenas a brancos, em Corpo a Corpo (1984).

O texto não economizava no racismo que saía da boca de Lucia (Joana Fomm), personagem mau caráter que não suportava a ideia de ver um homem rico e branco apaixonado por uma mulher negra bem sucedida.

Os embates escancaravam o preconceito da sociedade e mostravam quais os valores que estavam associados a pessoas racistas.

Rogéria e Betty Faria em Tieta

Primeira travesti em elenco fixo na Globo em Tieta
Foi Aguinaldo Silva quem peitou a emissora e escreveu a memorável Ninete, vivida pela antológica Rogéria em uma das maiores audiências da história das novelas até hoje, Tieta (1989).

Em casa, o público viu uma artista travesti interpretando uma travesti amiga e defensora da protagonista, vivida por Betty Faria, que não levava desaforo pra casa e seguia altiva frente aos olhares e cochichos de moradores da pequena cidade de Santana do Agreste.

Claudia Abreu bissexual em Celebridade

Primeira vilã assumidamente bissexual em Celebridade
O lado lésbico de algumas malfeitoras já tinha surgido antes, mas sempre ficava na base da sugestão, tanto que parte do público jamais notava. 

Foi em Celebridade (2003), que a "cachorrona" Laura (Claudia Abreu), pelas mãos de Gilberto Braga, deixou claro que já havia tido envolvimento com Dora, personagem que Renata Sorrah viveu durante uma semana na trama das nove.

Primeiro casal interracial como protagonista em Da Cor do Pecado
Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a protagonizar um folhetim na Globo. Porém, em A Cabana do Pai Tomás (1969), o par romântico dela, Sérgio Cardoso, era pintado com tinta preta para viver um personagem negro, ato considerado hoje como "blackface".

Coube à João Emanuel Carneiro criar a primeira protagonista negra, Preta (Taís Araújo), em um relacionamento com um homem branco em Da Cor do Pecado (2004). Na novela, a personagem vivia romance com Paco (Reynaldo Gianecchini).

Primeiro casal de atores negros em papéis principais em Cobras & Lagartos
Em sua novela seguinte, Cobras & Lagartos (2006), João Emanuel Carneiro novamente foi pioneiro ao escalar dois artistas negros no rol de protagonistas.

Lázaro Ramos, que interpretou o anti-herói Foguinho, e Taís Araújo, que viveu a mau caráter Ellen, estavam dentre os seis protagonistas da trama das sete.

Casal gay em Os Mutantes: Claudio Heinrich e Deo Garcez

Primeiro casal gay na Record em Os Mutantes
Dentre as minorias abraçadas pelos autores gays estão também os próprios gays. Foi Tiago Santiago quem idealizou o primeiro casal homossexual em folhetins na TV Record.

Em Os Mutantes - Caminhos do Coração (2008), o público pôde ver o romance entre Danilo (Cláudio Heinrich) e Bené (Deo Garcez). Anos depois, o escritor revelou que o beijo entre os personagens foi vetado pelos bispos que comandam a emissora.

Primeira atriz cega em novelas da Globo em Caras & Bocas
Walcyr Carrasco abraçou pessoas com deficiência (PCD) no sucesso das sete Caras & Bocas (2009).

O autor criou, desde a sinopse, a doce Anita para Danieli Haloten, que se tornou a primeira atriz cega a ter um papel fixo em novelas do canal.

Primeiro beijo homossexual e lésbico em novelas em Amor e Revolução
Se na Record ele não conseguiu, no SBT, Tiago Santiago recebeu aprovação. Com isso, Amor e Revolução (2011) entrou para a história por exibir o primeiro beijo lésbico e também homossexual em novelas no País.

A cena de carinho entre duas mulheres já tinha sido vista num teleteatro, A Calúnia (1963), da TV Tupi, entre Vida Alves e Geórgia Gomide, e num selinho em Mulheres Apaixonadas (2003), quando Alinne Moraes e Paula Picarelli viviam personagens em uma peça de escola e uma estava fantasiada de homem.

Foi na trama do SBT, no entanto, que pela primeira vez duas mulheres trocaram um beijo de verdade - Luciana Vendramini e Giselle Tigre. Estava previsto ir ao ar também um beijo entre um casal gay, mas a emissora desistiu supostamente após pesquisa de opinião com a audiência.

Amor à Vida: beijo gay de Niko e Felix

Primeiro beijo gay em novelas da Globo em Amor à Vida
Houve vários beijos gays até chegar ao mais antológico: o selinho entre Carlos Kroeber e Ney Latorraca (travestido de mulher) em Um Sonho a Mais (1985), Raí Alves e Daniel Barcellos na minissérie Mãe de Santo (1990), da TV Manchete, e o selinho entre Guilherme Weber e Bruno Garcia em outra minissérie, Queridos Amigos (2008), na Globo.

Mas o primeiro beijo entre dois homens - que se identificavam como homens - e numa novela foi obra de Walcyr Carrasco em Amor à Vida.

O Brasil parou para ver a sequência entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) no último capítulo da trama.

Casamento gay em Terra e Paixão

Primeiro casamento gay em novelas em Terra & Paixão
Quase uma década depois, o mesmo Walcyr Carrasco escreveu mais uma cena pioneira: a do primeiro casamento gay em novelas.

Em Terra e Paixão (2023), de novo no capítulo derradeiro, a Globo mostrou a união de Ramiro (Amaury Lorenzo) e Kelvin (Diego Martins).
 


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
© Todos direitos reservados à Guiya Editora. Vedada a reprodução e/ou publicação parcial ou integral do conteúdo de qualquer área do site sem autorização.