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Assistente social e ativista LGBT, Lirous quer ser vereadora

Líder da ONG Adeh tem sido criticada por ter candidatura pelo PL. Como resposta, ela afirma que opção veio por ajuda recebida

Publicado em 09/11/2020
LIrous K'yo Fonseca Avila, candidata trans pelo PL à vereadora em Florianópolis
Lirous afirma que partido não cumpriu acordo para custeio da campanha, mas seu foco é lutar e conseguir mandato

Ela é uma das personalidades do universo LGBT mais conhecidas e reconhecidas de Floripa. No movimento social, tem trajetória extensa e que inclui a liderança da ONG Adeh, com foco em pessoas trans. Nas pickups, mais recentemente, passou a ser DJ requisitada. 

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Seu desafio agora é ter lugar na Câmara Municipal e continuar sua luta. No caminho, muitas pedras. Ainda gera muito disse-me-disse o fato de ela ser candidata por partido sem tradição na defesa da causa arco-íris, o PL. 

Ela relata ter sido muito criticada por conta dessa escolha. Nesta entrevista, a assistente social dá suas razões para a escolha e aponta para o futuro caso chegue a ter direito de ser vereadora a partir de 2021. 

Como seu mandato vai contribuir para o avanço da cidadania LGBT em Floripa?
Acredito que o mandato pode não só contribuir com a fomentação de leis e políticas públicas, mas também para denunciar o que vivemos em Florianópolis. Enquanto não tivermos pessoas que levantem a pauta LGBT e dialogue de dentro do movimento social de base com trabalhos ativos, pouco adianta ter um candidato que seja apenas LGBT.

Fico impressionada como tem candidato que se colocou como sendo LGBT que eu nunca vi em reunião do movimento social ou que só aparece na época de parada ou Carnaval.

Temos diversas pautas importantes a serem construídas na segurança pública, educação, assistência social, saúde, desenvolvimento social, cultural, combates às violências, enfim, a lista é enorme, e não dá para generalizar todas essas questões sem trabalhar a especificidade de cada letrinha em cada questão, só assim as políticas públicas servirão para todos.

Mas dentre tudo, o meu sonho ainda é a construção de uma casa lar que abrigue a população LGBT aqui em Florianópolis, ver a nossa população se desenvolvendo profissionalmente e tendo acesso aos estudos.

Fora a questão LGBT, quais são suas três principais propostas para a população?
Quero muito trabalhar com o desenvolvimento tecnológico da capital, principalmente na parte dos videogames, a ampliação do conceito turismo, ampliando os espaços de lazer e fomentando novos empregos, fortalecendo os pequenos e médios empresários.

Também desejo a inclusão de pessoas com deficiências no espaço de poder e decisão. E acredito que o básico seria, mas com resultado a longo prazo, a inclusão da linguagem de sinais como uma disciplina a ser aprendida nas escolas municipais.

Há tanta coisa para se fazer que eu não conseguiria pensar apenas em três propostas, pois acredito que todas elas são relevantes.

Fora que acredito que a metodologia do gabinete aberto, da conversa direta com a população e o acesso simplificado da população, assim como a transparência do mandato, sejam fundamentais para essa construção. 

Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do PL. Qual o compromisso do partido com a cidadania LGBT?
O meu convite veio através do Pedrão (candidato a prefeito). Na época, eu estava filiada ao Psol e estava tudo certo que sairia por lá.

Depois que o Estado, sem dialogar, pediu a reintegração de posse da Adeh, tive que lidar com a saída do espaço, com possível ordem de prisão caso eu fosse vista no prédio. Foi um processo do Ministério Público. 

Nas últimas 24 horas da Adeh, ninguém dos partidos da esquerda, que já sabia do caso da Adeh desde 2016 e com quem eu tinha comunicação direta, me respondia. Visualizavam a mensagem, ouviam os áudios, mas não respondiam.

Foi quando acabei tendo a luz de uma pessoa ligada ao Pedrão que conseguiu um depósito para eu guardar os móveis da Adeh, o valor para pagar o transporte e um advogado para me auxiliar.

Daí, houve dois convites do Pedrão, um para que eu saísse como vice-prefeita e outro como candidata a vereadora. Essa conversa aconteceu uma semana antes da pandemia.

Conversei sobre o meu posicionamento e que eu tinha interesse de sair candidata para explicitar tudo o que estava acontecendo com da Adeh e a ausência do município no cuidado com a população LGBT.

Em poucos dias, as pessoas começaram a me questionar inbox porque havia saído matéria tendenciosa no jornal dizendo que eu havia trocado o Psol pelo PL.

Por muito tempo, eu tive crises, mas resolvi seguir em frente e pagar para ver. Depois disso, recebemos por parte da galera do PL ajuda com alimentos e remédios para a população LGBT mais carente que frequentava a Adeh.

Desde o inicio da pandemia, 15 residências de LGBTs, majoritariamente pessoas trans, estavam ganhando alimentos e remédios e os móveis da Adeh estavam em um lugar salvo. Isso contou muito para a minha decisão. 

Fora que não sou a única pessoa LGBT no partido e esse diálogo vem sendo feito diretamente com o Pedrão e não com o PL. 

A flexibilidade de optarmos em fazer campanha para o prefeito, em falar sobre o partido e em não termos restrição alguma na apresentação das nossas propostas e uma carta de comprometimento que o candidato é o dono do mandato e não o partido, tudo isso que fez com que todos estivessem com o Pedrão.

Vejo tudo isso como uma forma de comprometimento. Andamos discutindo muito sobre a criação de um setorial LGBT dentro do partido. Vejo que os candidatos a vereador têm interesse em discutir as demandas LGBT, o que é muito importante, até porque LGBT estão em todos os espaços e tudo o que pudermos fazer para quebrar preconceitos colabora bastante.

Você critica abertamente seu partido por não estar lhe dando recursos financeiros prometidos para fazer campanha. O que ocorreu?
Na primeira conversa que eu tive com o Pedrão, eu coloquei pontos bem importantes sobre sair candidata. 

Em diversas reuniões falei da necessidade de um orçamento mínimo e este havia me sido prometido, inclusive era para que eu contratasse a melhor equipe de campanha que eu conhecesse e que eu teria a campanha exatamente do meu jeitinho.

Entretanto o que eu recebi foi material de campanha (1.000 folders e 1.000 adesivos) somente, sendo que muitos candidatos receberam mais materiais.

Só que eu dispensei, pois além de sair da estética da campanha que eu acredito, prefiro utilizar os valores para poder dar um mínimo de auxílio e confeccionar outros materiais junto à minha equipe, mas tive de dispensá-la.

Não dá para fazer uma boa campanha sem dinheiro. Tive muitos pedidos de voluntários para estar nas ruas comigo, mas não aceitaria colocar ninguém em risco nessa pandemia sem ter uma mínima remuneração.

Agora luto pelo menos para que a verba destinada à campanha das mulheres chegue às nossas mãos, pois estamos cobrando e nada de vir até o momento. 

De que segmentos você está mais contando receber votos? Que argumentos tem usado de forma geral para falar com cada um?
Eu trabalhei em diversas frentes. Vejo que tem uma galera trans que apoia muito, é fiel, assim como LGB, mas não são a maioria. É bacana ver que as pessoas que apostam no meu trabalho na Câmara são pessoas que foram tocadas por mim de alguma maneira. 

Em nenhum momento saí pedindo voto para as pessoas que eu sei que são assumidamente de esquerda. Só pedi para entenderem o que aconteceu, mas não me arrependo nem um pouco dessa trajetória. Foi muito importante levar o debate LGBT para pessoas que nunca tiveram contato com a temática.

Acho que a chave nesse processo todo foi ver que os apoios vêm naturalmente das pessoas que me reconhecem pela seriedade do trabalho que eu desenvolvo, nutrem esperanças e confiam em mim. Acredito que vai ser da juventude que os votos virão, indiferente de serem LGBT ou não.

Enfim, quem quer fazer pela comunidade LGBT vai lá e faz como fiz há mais de 15 anos só em Florianópolis. 

AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay Floripa de entrevistar todas candidaturas LGBT à Câmara Municipal de Florianópolis.

Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.

Acompanhe todas as entrevistas e reportagens sobre as eleições na editoria Eleições 2020 clicando aqui.


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