A falta de apuração aliada à disseminação indiscriminada de informações inverídicas nas redes sociais gera publicações falsas, tal como a da UOL, na sexta-feira 27.
Nos perfis do Splash e Universa no Instagram, o portal - que é um dos maiores de notícias do País - divulgou fake new sobre Marsha P. Johnson e a Revolta de Stonewall.
"Antes das Paradas do Orgulho, houve uma revolta e uma trans preta estava na linha de frente", é escrito na primeira de uma série de imagens em alusão ao Dia Mundial do Orgulho LGBT, celebrado em 28 de junho em todo o mundo.
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A data foi estipulada a partir da chamada Revolta de Stonewall, levante de frequentadores contra autoridades após batida policial no bar Stonewall Inn, em Nova York, em 28 de junho de 1969.
A página de notícias informa que "Marsha teria sido uma das primeiras a reagir à violência policial atirando um tijolo contra eles [policiais]".
Essa falsa narrativa que criou protagonismo da ativista foi disseminada em 2019, nas celebrações dos 50 anos da revolta.
Quem criou tal fantasia sequer assistiu ao documentário A Morte e Vida de Marsha P. Johnson (2017), da Netflix. No filme, a própria retratada explica que não estava no início da confusão. Ela chegou já com a batalha em curso.
A "tijolada" inicial de Marsha jamais existiu e já foi desmentida inúmeras vezes (por livros inclusive e por quem esteve na rebelião) - o suficiente para virar piada dentre a comunidade LGBT.
Participantes do evento, que ainda vivem, relatam que não se lembram da ativista no dia e de nenhum papel de liderança dela no dia seguinte (a rebelião se estendeu pelo dia 29).
Aliás, a própria definição de Marsha como "trans" pelo portal é objeto de debate. Marsha se definia como homossexual e drag queen, mas muitos acreditam que fosse viva hoje (a ativista morreu em 1992) ela se entenderia como uma mulher trans ou travesti.
A página segue desinformando ao dizer que nascia com a rebelião o "movimento LGBTQIA+". Stonewall foi bastante importante, sim, e a partir do sua primeira comemoração, em 1970, surgiram as paradas do orgulho (em Nova York, São Francisco e Chicago).
Entretanto, o "movimento" pela busca de direitos já havia surgido muito antes. Exemplo foi a associação gay estadunidense Mattachine Society, criada em 1950, que foi bastante atuante e conseguiu dentre seus grandes feitos que gays deixassem de ser presos em banheiros públicos por policiais disfarçados que flertavam para forjar provas de assédio.