Fred Nicácio criticou gays. E por que se calou sobre homens negros?

Ex-BBB e médico é mais um que vilaniza homossexuais masculinos. A resposta será orgulho (contra que for)

Publicado em 14/12/2025
fred nicacio gay
Fred e o fato: negros se protegem, gays abaixam a cabeça

Editorial

Chega perto de meio milhão de visualizações, vídeo em que o médico, palestrante, apresentador e ex-BBB Fred Nicácio critica gays por esses não terem ido, na avaliação dele, ao ato Mulheres Vivas realizado no Masp no domingo 8 de dezembro. 

São frases dele: "Muitos homens gays deveriam estar lá"; "Se falar que tem pool party agora, vai (sic) 500 agora, pagando"; "Vários homens gays vivem no universo das mulheres, ganham dinheiro do universo feminino", "E na hora de fazer uma manifestação, [gay] não consegue se mobilizar."

O palestrante, inclusive sobre direitos humanos, usa aqui algo que, com certeza ele deve falar que nunca, nunca se deve ser proferido: estereótipos! 

Enfim, o bom mocismo ficou na palestra! Afinal, vejam a imagem desenhada por esse mártir do politicamente correto: gays cabeleleiros ou maquiadores, adoradores de pool parties e, como ele falou em comentário na mesma postagem no Instagram, micareteiros. 

E acabou? Nada! A pergunta que fica é: como Nicácio sabia quem era gay em um evento com 10 mil pessoas? Ah, claro, deve ter olhado roupa gay (shortezinho e regata transparente ou canelada), unha pintada - coisa de gay -, e talvez grito de "Salvem as monas"! Zorra Total manda lembranças! 

Ou Fred Nicácio deveria ser contratado por institutos de pesquisa para medir só pelo olhar a quantidade de espécimes homossexuais em eventos públicos e congêneres ou ele poderia tentar não se guiar por estereótipos.

Ou será que ele deveria apenas não confudir os amigos homoafetivos dele ausentes do ato de todo o restante de gays da maior cidade do Brasil?

Mas sabe onde Fred conhece parede onde está escrito "Agora eu paro de falar"? 

Ele diz, em dois segundos, que havia baixa presença de homens no evento. Logo, faltou homens negros lá. 

Nicácio deixa explicíto no vídeo que expressou o que expressou sobre gays porque ele falava da comunidade à qual pertence. Oras, e por que razão ele aí esqueceu que também é homem negro?

E por que Nicácio não usou a mesma arma contra gays para comentários sobre esse aspecto? Imagina ele falando algo como "Se falar que tem um samba, vai (sic) 500 agora, pagando!"

Ele "esqueceu" ter outras identidades por um motivo simples: demonizar gays é aceito dentro da comunidade LGBT! Atacar homossexuais masculinos virou esporte, tornou-se comum, viraliza até como meme. E tudo bem!

Tem sido assim até em políticas públicas que excluem, sem nenhum pudor, gays de ações de acolhimento, assistência social e capacitação para o emprego, por exemplo. 

Enquanto o povo negro não aceita essa postura vilanizadora contra si e seus homens, Fred, ativistas arco-íris, gestores públicos e os próprios homossexuais normalizam o apagamento, o silenciamento, a desumanização de gays! 

O vídeo de Fred é exemplo escancarado disso! Como saíram facilmente de sua boca críticas, estereótipos, apequenamentos, injustiças contra gays! E depois muitas mulheres e outras letras do Vale viram o bueiro aberto, se ajeitaram na cadeira e dedilharam muita, muita homofobia! 

E aqui fica o lamento contra gays que se submetem a esse jogo: baixam a cabeça, deixam de se verem como sujeitos merecedores de respeito, param de lutar pelos seus, menosprezam a própria história, inventam outras nas quais passam a ser meros espectadores ou até opressores! 

Esses não respeitam um dos pilares que deveriam guiar cada homossexual masculino: orgulho! Sim, orgulho de ser quem se é implica rejeitar o "cale-se" dentro da comunidade, levantar-se contra ataques sejam de onde vierem, exigir estar em políticas públicas (todas elas) e botar o dedo na cara de quem tenta diminuir sua dor. 

Fred não fez aquele vídeo para exaltar mulheres e a vida delas. Se assim fosse, ele deveria falar sobre outros segmentos e, se justo fosse, não resumiria o apoio à causa feminina apenas a estar no ato. 

Se realmente ele quisesse mulheres respeitadas, a indignação e o incômodo dele, como ele mesmo diz na gravação, deveriam focar primeiramente em quem chama mulher de racha e se alegra por ter nascido de cesárea ou assassino que atropela uma mulher, arrasta-a por um quilômetro debaixo do carro e a faz perder as duas pernas? 

O conforto que Fred sente em atacar homens homossexuais e não outras identidades nasce por ele se ver autorizado e autorizador de uma cultura, um movimento LGBT e um pensamento cada vez mais presente dentre acadêmicos e gestores públicos que fazem do ódio e/ou menosprezo a gays algo tão comum quanto o nascer do sol. 

Só que a resposta vai ser mulheres e todos, inclusive gays (por mais que muitos não queiram, até uns próprios), vivos e com orgulho. Contra quem for! Contra quem for!


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