Por que alemães amam ficar nus ao ar livre?

Hábito remonta ao século 19 e ganhou força durante governo comunista

Publicado em 12/11/2020
Prática não é sexualizada e visa bem-estar
Prática não é sexualizada e visa bem-estar

Passear na Alemanha e encontrar pessoas nuas tomando sol em um parque não é nada incomum. O que muitos não sabem é que esse hábito não é uma conquista da nova geração. A prática remonta ao século 19 e floresceu, acreditem, na parte comunista do país.

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A Freikorperkultur (cultura do corpo livre, em português), mais conhecida pela abreviação FKK, integra o cotidiano alemão há mais de 120 anos.

Em fins do século 19 e começo do 20 muitos seguiam uma filosofia chamada Lebensreform (reforma de vida), que defendia alimentação orgânica, liberação sexual, medicina alternativa e vida mais simples e próxima da natureza.

"O nudismo é parte desse movimento mais amplo, que foi direcionado contra a modernidade industrial, contra a nova sociedade que surgiu no final do século 19", explica Arnd Bauerkamper, professor associado de história moderna da Universidade Freie, de Berlim, à BBC.

Apesar da romantização do campo, o movimento ganhou repercussão em grandes cidades, como Berlim. Durante a Era de Weimar (1918-1933), surgiram as praias FKK, geralmente frequentadas pela burguesia.

Em 1926, Alfred Koch fundou a Escola de Nudismo de Berlim propagando a ideia de que a nudez ao ar livre promovia harmonia com a natureza e bem-estar.

Anos depois, ainda que o nazismo visse a prática como imoralidade, o Terceiro Reich suavizou as proibições, em 1942.

Finda a Segunda Guerra Mundial e com a Alemanha partida em duas, foi aí que a nudez floresceu.

Placa indicando área naturista, de nudez, na Alemanha: FKK
Placa indicando área naturista na Alemanha

Na Alemanha Oriental, governada por regime comunista, cidadãos eram controlados, tinham viagens e bens de consumo restritos. O que eles faziam para aliviar a tensão? Tiravam a roupa.

"Havia uma certa sensação de escapismo. [Os alemães orientais] sempre foram expostos a todas essas demandas do Partido Comunista e obrigações, como ir a comícios do partido ou ter de realizar tarefas comunitárias sem remuneração nos fins de semana", explica Hanno Hochmuth, historiador do Centro Leibniz de História Contemporânea de Postdam.

Muito comum nos anos 1950 e 1960, o FKK voltou a ser permitido oficialmente em 1971. A Alemanha Oriental iniciou processo de abertura das políticas interna e externa e queria parecer mais tolerante ao mundo.

Nas décadas de 1970 e 1980, centenas de milhares de nudistas lotavam acampamentos, parques e praias. Então, veio a reunificação do país e a partir de 1990, com a retirada de restrições individuais, o FKK declinou.

Segundo a reportagem, em 2019, a Associação Alemã para a Cultura do Corpo Livre contava com mais de 30 mil membros registrados - grande parte na faixa de 50 e 60 anos.

Especialmente na região de Berlim e do país como um todo que antes integrava a Alemanha Oriental ainda persiste a cultura do nudismo.

Há site no país que mostra todos os lugares em que se pode tirar a roupa, incluindo praças, parques, spas e até caminhar pelas montanhas e florestas.

A nudez, resumem os especialistas, deixou um legado aos alemães de pouco se importarem com as aparências. "Tentamos julgar as pessoas não pela sua aparência, mas pelo que têm dentro delas".


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