Peça gay é cancelada em festival por medo de 'efeito Bolsonaro'

Espetáculo argentino e outros dois de Curitiba foram suspensos do Cena Cumplicidade, no Recife

Publicado em 18/10/2018
Peça gay Puto, de Ezequiel Barrios, é cancelada de festival no Recife
'Não é censura, não é medo', diz ator e autor Ezequiel Barrios

Por causa das ameaças que LGBT têm sofrido após o anúncio do segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) à Presidência da República, um festival pernambucano cancelou três espetáculos.

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As montagens seriam exibidas no Cena Cumplicidade, na Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, no fim do mês.

Uma das produções canceladas foi Puto ("veado", em português), do argentino Ezequiel Barrios. Outras duas são de Curitiba.

Arnaldo Siqueira, da Associação de Artistas Integrados, que organiza o evento, disse em e-mail enviado ao autor (e revelado pelo UOL), que a obra foi retirada após a divulgação das pesquisas de intenção de votos "que apontam a vitória esmagadora da extrema-direita", seguida "por ataques a artistas e militantes (com agressões e a morte a punhaladas de um colega capoeirista)".

"Eles estariam correndo risco de vida", diz Siqueira sobre os responsáveis pelas três produções vetadas. O organizador afirma que passam cerca de 40 mil pessoas diariamente pela instituição de ensino e que não haveria garantia de segurança.

À reportagem, Barrios contou que sua obra é uma mistura de dança e teatro e trata de uma pessoa homossexual que ainda não se assumiu e que odeia a si mesma. Há nudez e linguagens explícitas.

Ezequiel Barrios - Puto

"Há um monólogo no final do qual falo de todos os pesadelos do 'veado' no armário, tudo o que pensa quando vai assumir, que vão bater nele, que vai ser estuprado. Tudo isso eu digo em palavras", disse o argentino.

Para Barrios, "não é censura, não é medo" e que "a cidade é deles, é o contexto deles, eles sabem os riscos que estão correndo".

"A gente não quer colocar em risco pessoas de fora", explicou o organizador. "Mas o festival está colocando sim na programação obras contestadoras, mas feitas por brasileiros, porque eles podem assumir o risco de estar se posicionando."


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