Gays e trans são estuprados e mutilados na Síria, diz relatório

Denúncia mostra que não há serviço de suporte a estes grupos

Publicado em 06/08/2020
Gays e transexuais são estuprados na Síria e alvo de torturas, diz relatório
Queima de genitais, surras, choques e estupros são comuns em presídios

Relatório divulgado pela entidade Human Rights Watch mostra que a violência sexual contra homens gays e bissexuais, mulheres trans e pessoas não-binárias é grande na Síria.

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Desde o início do conflito no país do Oriente Médio, em 2011, esses grupos, além de meninos e homens héteros, têm sido submetidos a torturas, estupros, mutilações e ameaças que por vezes chegam à morte.

O relatório baseia-se em entrevistas realizadas com 40 homens gays e bissexuais, mulheres trans e pessoas não-binárias e quatro homens heterossexuais que passaram por situações de extrema degradação na Síria.

As cenas de violência ocorreram tanto em presídios e delegacias quanto em postos de controle e no exército, seja por meio da polícia oficial do governo ou por grupos armados, como do Estado Islâmico.

"Eles estupram você só para vê-lo sofrendo, gritando", disse Yousef, um gay de 28 anos. "Ver você sendo humilhado. É isso que eles gostam de ver."

Uma mulher trans descreve quando integrante do Estado Islâmico jogaram seu amigo gay do alto de um telhado para a morte.

Uma outra mulher trans, Nayla, ativista de 21 anos, envolvida em manifestação anti-governo, contou que sua casa foi invadida e foi levada à prisão.

Colocada em uma cela com 30 homens, foi estuprada por guardas e detentos. "Havia um gay lá e ele também estava passando pelas mesmas coisas pelas quais eu passei", ela diz.

Nayla relembra que em determinado momento ela e o rapaz gay foram obrigados a transar entre si. "Tivemos de fazer sexo na frente deles, enquanto eles nos batiam e nos cortavam com lâminas."

"Então, eles trouxeram o cabo de um esfregão e o inseriram em nossos ânus. Começou um forte sangramento e fomos mutilados."

Segundo o relatório, bastões, madeiras e garrafas estão dentre os objetos usados para estuprar mulheres trans e homens gays nesses lugares.

Nudez forçada, queimaduras e choques elétricos nos genitais também são relatos comuns de quem passou por esses episódios.

O documento aponta que apesar de homens héteros e meninos sofrerem com este tipo de violência, gays são os alvos preferidos porque são vistos como fora da norma, "menos masculinos" do que o ideal. Mulheres trans também são miradas porque são vistas como gays. Ou seja, a homofobia e a transfobia são ingredientes a mais para serem degradados.

A violência não é exclusiva destes grupos. No entanto, o que o relatório aponta é que para homens gays e bissexuais e mulheres trans não existe sequer rede de apoio.

Por causa do preconceito e do estigma, gays, bissexuais e mulheres trans não procuram ajuda após serem submetidos a violência. Pior, não há quem procurar. Os poucos serviços voltados a vítimas de estupros e torturas são direcionados a mulheres cis e crianças.

Transtornos psicológicos, sangramento retal, dores musculares persistentes e HIV são alguns dos efeitos colaterais com os quais estes grupos precisam conviver depois.

A grande maioria dos entrevistados hoje vive no Líbano, país que recebe boa parte dos refugiados, mas que também não oferece nenhum suporte de saúde para gays e transexuais.


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