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Camasão (Psol) quer levar representatividade bissexual à CMF

Presidente do Psol na capital, candidato já disputou três eleições, inclusive a governador

Publicado em 10/11/2020
Leonel Camasão: candidato bissexual a vereador em Florianópolis pelo Psol
'O Psol já provou ser um dos maiores aliados da causa LGBT+ no País', afirmou

Paulistano, desde os 14 anos em Santa Catarina e há sete vivendo na capital, Camasão é candidato a uma vaga na Câmara Municipal de Florianópolis (CMF) no próximo domingo 15.

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História no movimento social e atuação no Psol, sigla em que ingressou em 2008, ele tem. O jornalista de 34 anos já foi candidato outras três vezes: a prefeito de Joinville (2012), a deputado estadual (2014) e governador do Estado (2018), quando somou 72.133 votos, quase 20 mil deles na capital catarinense.

Bissexual e pai de dois meninos, Camasão afirma ser importante ser eleito por conta da representatividade. Presidente do Psol em Floripa, ele também ressalta a relevância do partido junto às minorias, em especial à comunidade LGBT.

Veja entrevista do Guia Gay Floripa com Leonel Camasão.

Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Se nossa campanha for vitoriosa em 15 de novembro, muito provavelmente serei o primeiro homem bissexual assumido a ser eleito vereador no País [Nota da redação: Belo Horizonte ao menos tem um vereador bissexual, Gabriel Azevedo (Patriota)]. Isso, por si só, já é um fato importante para estimular outras pessoas a participar da vida pública e a sair do armário.

Os bissexuais estão dentre os que menos apresentaram candidaturas na comunidade LGBT+, segundo levantamento da Aliança Nacional LGBTI (cerca de 5% do total). Buscar representatividade é muito importante. Mas só ela também não resolve.

Várias figuras bolsonaristas são LGBT+, negras ou mulheres que atuam contra essas causas. Por isso, queremos trazer representatividade com conteúdo.

Além da defesa dos nossos direitos e do combate ao conservadorismo, que enxerga nos LGBT+ um alvo a ser abatido, queremos trabalhar para tirar o plano municipal de políticas LGBT+ do papel.

Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Psol. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
O Psol já provou ser um dos maiores aliados da causa LGBT+ no País. Nosso partido elegeu o primeiro ativista LGBT+ para a Câmara Federal, Jean Wyllys, uma das pessoas mais difamadas pela extrema-direita brasileira.

O Psol foi o primeiro a eleger deputadas trans (Érica Malunguinho e as codeputadas Robeyonce Lima e Érika Hilton). Dos dois prefeitos eleitos pelo Psol em 2016, um é homossexual (Oton Mário, de Jacanã, RN). Não é possível falar da história dos LGBT+ na política brasileira sem falar do Psol.

Neste ano, candidatos assumidamente LGBT+ do Psol recebem, inclusive, um valor adicional de 15% em verbas de campanha, comparado a candidatos brancos heterossexuais.

Desde o nosso primeiro estatuto até os avanços conquistados nos últimos 15 anos, o Psol teve participação decisiva tanto no Parlamento, em ações judiciais, como nos movimentos sociais.

Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas a população de Floripa?
Definimos cinco áreas de atuação principais do nosso mandato. Se fosse para classificar nossas três propostas principais, eu escolheria a reformulação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Florianópolis, usando de exemplo o excelente trabalho realizado no Rio de Janeiro por [Marcelo] Freixo, Marielle [Franco] e Renata Souza na CDH da Assembleia Legislativa.

Criar, via comissão, um Observatório da Violência Policial, instrumento importante para proteger os cidadãos e cidadãs de Florianópolis dos abusos cometidos pelo Estado; e ainda, propor um novo Marco Regulatório para a Transparência Municipal, já que Florianópolis é a pior capital do país nesse quesito.

Um dos eixos de seu programa é segurança pública. Como um vereador pode atuar em algo que tem como responsabilidade mais direta o Poder Executivo estadual?
De fato, a segurança pública é tradicionalmente uma questão estadual e federal. Mas assim como a direita está municipalizando a discussão, nós também precisamos fazer o mesmo. Precisamos nos apropriar desse debate e dar a ele o sentido necessário para promover justiça social e segurança.

Hoje o debate da segurança está restrito ao punitivismo penal, à ampliação de armas, tropas e viaturas, assim como a insana política de guerra às drogas. Em nível municipal, já temos a Guarda Municipal, uma nova força de segurança que surgiu nos últimos 20 anos em todo o País.

Nosso papel na Câmara será de fiscalizar a atuação das forças de segurança pública, denunciar os casos de violência policial, ouvir vítimas e dar a oportunidade de suas versões serem ouvidas, registradas e documentadas.

Também queremos construir, após amplo debate com a sociedade civil, uma política municipal de redução de danos em relação aos usuários de drogas lícitas ou ilícitas, e também uma política municipal de atendimento para pessoas encarceradas e suas famílias.

Como você analisa o fato de o Psol, com pautas voltadas a classes mais baixas e contra o capitalismo, não ter tanta adesão justamente desse segmento?
Me parece que essa afirmação pode não ser verdadeiramente exata a depender da região do País em que observamos a atuação do Psol. Notadamente no Norte e Nordeste, regiões importantes, mas de pouca visibilidade no cenário político nacional, o Psol tem uma adesão absolutamente popular e vinculada às pessoas mais pobres, notadamente em Belém e Macapá.

Ao sul e sudeste, é visível essa identificação maior com os setores da classe média, ou da classe média baixa. Esse é um elemento que faz parte da história da esquerda brasileira, e não apenas do Psol.

Estudos sobre desempenho eleitoral mostram que, nas eleições presidenciais, a esquerda só passou a ter maioria dentre os mais pobres a partir da reeleição de Lula, em 2006. E essa hegemonia entre os pobres já foi quebrada nos últimos cinco anos e hoje os mais pobres estão com Bolsonaro.

Entendo que a esquerda deseja uma profunda transformação social. E para fazê-lo, precisa enfrentar temas que antagonizam com o senso comum, como a própria pauta LGBT+, por exemplo. Abandonar, secundarizar ou esconder nossas causas para ganhar apoio não me parece ser o caminho. Já foi tentado e deu errado.

No nosso caso concreto, por meio das redes sociais, temos entrado nas periferias de Florianópolis justamente com a pauta LGBT+. Jovens gays, lésbicas, transexuais e bissexuais de periferia têm nos procurado muito nessa campanha. Entreguei kits de campanha para pessoas LGBT+ que trabalham como empacotadores de supermercado, pessoas que entregam comida de moto ou bicicleta por aplicativos, garçons, cabeleireiros, pessoas que alugam cadeiras de praia na temporada, enfim, uma série de pessoas que estão na informalidade e lutando para sobreviver e que se encontraram com nossa campanha a partir da discussão dos direitos das pessoas LGBT+.

A construção da hegemonia na sociedade hoje passa por desafios enormes, como o poderio dos conglomerados de mídia, das igrejas neopentecostais e a própria ascensão da extrema-direita. Não existem soluções fáceis. Precisamos resistir e acumular forças para construir uma nova hegemonia.

AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay Floripa de entrevistar todas candidaturas LGBT à Câmara Municipal de Florianópolis.

Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.

Acompanhe todas as entrevistas e reportagens sobre as eleições na editoria Eleições 2020 clicando aqui.


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